Ilha do Faial - Açores
Localização da Ilha do Faial - Açores
Caldeira do Faial
A Horta é uma cidade com cerca de 8 800 habitantes. É sede do único concelho da Ilha do Faial e sede do Parlamento Regional dos Açores.
Geografia
Com uma forma quase pentagonal, a ilha emergiu de uma fractura tectónica de orientação ONO-ESSE – a mesma que deu origem à Ilha do Pico, denominada Fractura Faial Pico, uma estrutura do tipo transformante leaky que se desenvolve ao longo de 350 km, desde a Crista Médio Atlântica (sigla CMA) até uma área a Sul da Fossa do Hirondelle.
As suas elevações convergem, de um modo geral, para o centro da ilha onde se ergue uma montanha vulcânica chamada Cabeço Gordo, que atinge uma altitude máxima de 1 043 metros no seu bordo Sul. No seu topo, abre-se uma grande cratera de abatimento – a Caldeira. No seu fundo, situado a cerca de 570 metros acima do nível médio do mar, existe um pequeno cone e onde se forma pequenos lagos.
Período Pré-Caldeira
Pertence ao "período Pré-Caldeira", o complexo vulcânico da Ribeirinha datado em 800 mil anos. É a parte mais antiga da ilha. Depois surge o complexo vulcânico dos Cedros, datado em 580 mil anos. Entre 400 mil anos até há 10 mil anos, foi-se desenvolvendo um cone vulcânico de tipo escudiforme, essencialmente constituído por derrames lávicos e uma actividade eruptiva predominantemente efusiva.
Em resultado de uma importante actividade tectónica e vulcânica fissural, surgiu há cerca 50 mil anos, o Relevo Falhado da Costa Este. É bastante notório um relevo falhado com levantamento (horst, localmente chamados de Lombas) e afundamento (graben) de blocos rochosos visíveis. Em resultado disso, surgiram vários cones periféricos com derrames lávicos.
Formação da Caldeira
Há 10 mil anos, deu-se uma mudança de estilo eruptivo, quase exclusivamente explosiva, responsável pelos vastos depósitos de pedras-pomes e outros materiais piroclásticos que cobrem quase toda a ilha. A formação da Caldeira parece ter resultado de 2 episódios de colapso. O primeiro acontecimento ocorreu no seu interior. O segundo foi originado por um violenta erupção do tipo pliniana (libertação de uma "nuvem ardente"). O abatimento da cratera terá ocorrido ao mesmo tempo ou imediatamente depois da erupção.
Após esta erupção, mais de 40% da superfície da ilha de então, são cobertos por camadas de materiais piroclásticos para Norte e Leste. A maior parte da cobertura vegetal, senão a sua totalidade, foi destruída. Surgiram várias enxurradas que resultaram de precipitação intensa (resultante da condensação em torno das poeiras vulcânicas presentes na atmosfera), do relevo íngreme e da inconsistência do solo. Poderá encontrar-se vestígios das mesmas nas falésias da Praia do Norte.
Posteriormente, há cerca de mil anos, ocorreu nova erupção com derrame lávico no interior da Caldeira. Desconhece-se qual a idade do pequeno cone no seu interior, e se este estará relacionado com o complexo vulcânico do Capelo. A Caldeira é constituída por um acumulamento de materiais de projecção, de pedra-pomes e cinzas, que atingem notável espessura nas proximidades na borda da cratera, diminuindo gradualmente à medida que se afastam da cratera central.
Segundo a descrição dada pelo Padre Gaspar Frutuoso (1570-1580), a Caldeira manteve-se praticamente idêntica até à Erupção dos Capelinhos, em Setembro de 1957. No decurso da Crise Sísmica de Maio de 1958, abriram-se fendas no seu interior que romperam a impermeabilização do fundo da Caldeira. Este facto levou ao escoamento das suas águas para o interior do cone central desencadeando violentas explosões freáticas e ocorrência de actividade fumarólica temporária. Em resultado do Sismo de 9 de Julho de 1998, deram-se derrocadas nas paredes quase verticais da cratera.
Período Pós-Caldeira
Pertence a este período o complexo vulcânico do Capelo, datado em 4/5 mil anos. Em resultado de uma importante actividade vulcânica fissural ao longo de uma linha de fractura, surgiu um alinhamento de cones. Aqui se registaram 2 erupções históricas que destruíram as freguesias do Capelo e da Praia do Norte:
- erupção do Cabeço do Fogo, em 1672-73.
- erupção na Ponta dos Capelinhos, em 1957-58.
História
Deve o seu actual nome à abundância de árvores de faia-das-ilhas (lat. Myrica faya) aquando do seu povoamento. Em 1460, a designação henriquina era "Ilha de São Luís [de França]". Na cartografia do Século XIV, a ilha aparece pela primeira vez individualizada no Atlas Catalão de 1375-1377, como "Ilha da Ventura". No ano de 1432, Gonçalo Velho Cabral terá achado as ilhas do Grupo Central. Diogo de Teive passa ao largo da Ilha do Faial na sua 1.ª viagem de exploração para Ocidente do Mar dos Açores, em 1451.
Povoamento
O relato da primeira expedição à Ilha do Faial pertence a Valentim Fernandes da Morávia. Ele diz-nos que o confessor da Rainha de Portugal, Frei Pedro, indo a Flandres, como embaixador para a Duquesa de Borgonha, Infanta D. Isabel de Portugal, relacionou-se com um nobre flamengo chamado Joss van Hurtere, ao qual contou "como se acharam as ilhas em tal rota e que havia nelas muita prata e estanho" (porque, para ele, as ilhas dos Açores eram as supostas ilhas Cassitérides - nome dado na antiguidade às actuais ilhas britânicas). Hurtere demoveu 15 homens de bem, trabalhadores, "dando mesmo a entender, de como lhes faria ricos" se lhe o acompanhassem.
Por volta de 1465, Hurtere desembarca pela primeira vez na ilha, juntamente com mais 15 flamengos, com o fim de achar os ditos metais preciosos. Os primeiros povoadores terão desembarcado primeiramente no areal da enseada da Praia do Almoxarife. Permaneceram na ilha durante 1 ano, na Lomba dos Frades, até que se esgotaram os mantimentos que tinham trazido. Revoltados por não encontrarem nada do que lhes fora prometido, os seus companheiros andaram para o matar, que com esperteza escapou da ilha, voltando para a Flandres, comparecendo novamente perante a Duquesa da Borgonha. (Crónicas da Província de São João Evangelista, Frei Agostinho de Monte Alverne).
Por volta de 1467, Hurtere regressa numa expedição organizada sob o patrocínio da Duquesa da Borgonha. Ela mandou homens e mulheres de todas as condições, e bem assim como padres, e tudo quanto convém ao culto religioso, e além de navios carregados de móveis e de utensílios necessários à cultura das terras e à construção de casas, e deu-lhes, durante 2 anos, tudo aquilo de que careciam para subsistir, segundo legenda feita pelo geógrafo alemão Martin Behaim no Globo de Nuremberga. Valentim Fernandes acrescenta um pormenor, por rogo da dita Senhora, os homens que mereciam morte civil mandou que fossem degredados para esta ilha.
Ainda não satisfeito com o local, Hurtere decide contornar a Ponta da Espalamaca. Próximo do local de desembarque mandou erguer a Ermida de Santa Cruz (onde hoje existe a Igreja de N. Sra. das Angústias). Hurtere regressa a Lisboa e casa-se com D. Beatriz de Macedo, criada da Casa do Duque de Viseu. O Infante D. Fernando, Duque de Viseu e Mestre da Ordem de Cristo, fez-lhe doação da Capitania do Faial, em 21 de Março de 1468. Por volta de 1470, desembarca Willelm van der Hagen, que aportuguesou o seu nome para Guilherme da Silveira, liderando uma segunda vaga de povoadores. O rápido crescimento económico da ilha ficou a dever-se à cultura de trigo e do pastel (nome comum da planta Isatis tinctoria L. e do extracto fermentado das suas folhas usado como corante azul em pintura e tinturaria).
É o Padre Gaspar Frutuoso que conta a história de que o primeiro povoador teria sido um eremita vindo do Reino. Este vivia só, apenas com algum gado miúdo que nela deitaram os primeiros povoadores (em 1432?), e mais tarde, os moradores da Ilha da Terceira. "Somente no Verão iam pessoas da Terceira às suas fazendas, visitar os seus gados e comunicavam com este ermitão." Ele acabaria por desaparecer ao fazer a travessia do Canal do Faial para ir até à Ilha do Pico, numa pequena embarcação revestida de couro. (Saudades da Terra, Vol. VI, Cap. 37).
Tradições, Festas e Curiosidades
Festa do Sr. Santo Cristo da Praia do Almoxarife (1 de Fevereiro); Festa de São João Baptista, padroeiro da nobreza da ilha (24 de Junho), Festas do Culto do Divino Espírito Santo; Festa de N. Sra. das Angústias (), Semana do Mar; Festa de N. Sra. da Graça, na Praia do Almoxarife (); Festa de N. Sra. de Lurdes, na Feteira (), Festa de Santa Cecília, na Matriz, padroeira dos músicos (25 de Novembro), Festa de Santa Catarina de Alexandria de Castelo Branco (), Festa de N. Sra. da Conceição (8 de Dezembro).
A nível de artesanato destacam-se as miniaturas em miolo de figueira que retratam cenas do dia-a-dia, edifícios, flores, animais e pequenos navios, sendo Euclides Silveira da Rosa o mestre mais conhecido desta arte. A arte popular também engloba esculturas em osso de cachalote, objectos em vime, os bordados de crivo, bordados em ponto de cruz, bordados a palha de trigo sobre tule; as flores de escama de peixe, as toalhas de papel recortado e chapéus e bolsas de palha. Não deixe de conhecer no Capelo, a Escola de Artesanato, pelo trabalho desenvolvido na divulgação do artesanato local e regional, bem como na formação de novos artesãos.
Dentre as personalidades ligadas ao concelho que mais se distinguiram, destaca-se: o Duque de Ávila e Bolama e Dr. Manuel de Arriaga, na política (o 1.º Presidente da República Portuguesa); Dr. João José da Graça, no jornalismo; Sário Nunes, na música; Marquês de Ávila e Bolama, como militar e geodesista; e Dr. José de Arriaga, no papel de historiador.
Economia
O concelho da Horta tem um sector primário forte na área da agro-pecuária e em que a área agrícola ocupa 28% da área total da ilha. O cultivo é praticado em pequenas explorações, destacando-se as culturas forrageiras, a horta familiar, as culturas de citrinos, bananas, trigo e milho. Na pecuária, destaca-se a criação de gado suíno e bovino. A actividade piscatória, nomeadamente a pesca do atum, é outro pilar importante na sua subsistência. Outrora, a indústria baleeira ("caça à Baleia") foi outra fonte de sua subsistência.
Apresenta uma baixa densidade florestal, de 14,1%, que corresponde a uma área florestal de 645 ha, salientando-se a faia-das-ilhas, para além de cedros-do-mato, zimbros e fetos. Quanto ao sector secundário, é de referir uma moderna indústria - de lacticínios, de carnes de muita boa qualidade e de panificação. No sector terciário, o Turismo é a actividade económica de maior importância na ilha, que resulta fundamentalmente do movimento gerado pela passagem dos veleiros e cruzeiros que atravessam o Atlântico Norte e do turismo sazonal às ilhas. Dispõe de várias e excelentes instalações hoteleiras com pessoal qualificado, e regista-se o grande interesse no desenvolvimento do Turismo Rural e do Eco-turismo.
As principais actividades e atracções turísticas que se podem encontrar no concelho consistem no hipismo, desportos náuticos, excursões de observação de cetáceos (baleias, cachalotes e golfinhos), mergulho e fotografia subaquática, bem como passeios pedestres e marítimos. Está prevista a construção de um campo de golfe em terrenos já adquiridos nos arredores da cidade da Horta.
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