A Associação Grupo Caras Direitas
Fundação do Grupo em 1907
Artigo publicado quando esta Associação comemorou os
94 anos de história
1907 / 2001
A Associação Grupo Caras Direitas é actualmente uma das mais antigas e conceituadas agremiações do concelho da Figueira da Foz. Sediada em Buarcos, pequena vila costeira situada dois quilómetros a norte da Figueira da Foz, a ideia da sua fundação nasce da iniciativa de um pequeno grupo de amigos. Rapidamente conseguem entusiasmar mais algumas pessoas, pelo que são em número de quinze as pessoas que subscrevem a Acta de Fundação, elaborada em reunião do dia 1 de Outubro de 1907, em casa da D. Leonor da Paula, situada na Rua da Misericórdia de Buarcos.
Decidem passar a ser conhecidos pelo nome de Grupo dos Quinze Caras Direitas, sendo eleito para presidente da primeira Direcção, Joaquim Marçal Carrega. Esta nova instituição propunha-se romper com o marasmo sociocultural em que estava mergulhada a vila de Buarcos face à vizinha Figueira da Foz.
Nessa primeira reunião decide-se igualmente que a data do aniversário do Grupo será celebrada a 1 de Dezembro, data plena de simbolismo por ser a data da Restauração da Independência de Portugal face ao domínio da vizinha Espanha.
No dia 1 de Dezembro de 1907, é então comemorado o nascimento em Buarcos de uma nova agremiação que toma por lema a Instrução, o Recreio e a Beneficência, colocando os seus sócios ao serviço dos seus conterrâneos. Durante a cerimónia oficial são pagas pelos sócios as primeiras quotas no valor de 100 réis por mês. Velhos tempos...
Mas o que anima e impulsiona os trabalhos do Grupo começa por ser, e será por muitos anos, a actividade cénica. De facto, a sua primeira iniciativa é a levada à cena do drama histórico Miguel de Vasconcellos. A receita do espectáculo no montante de 37000 réis é aplicada no pagamento da conta dos medicamentos na farmácia de Miguel Augusto Cardoso, um doente carenciado. Essa oferta constitui o mote que marca das acções do Grupo ao longo dos anos. Invariavelmente, o lucro dos espectáculos bailes e quermesses revertem em favor de acções de benemerência, em prol da instrução dos sócios ou da restante comunidade de Buarcos. Esse espírito persiste ainda no modo como é actualmente vivido o Grupo Caras Direitas pelos seus sócios.
No decorrer do ano seguinte, o ano de 1908, o Grupo representa 5 peças no antigo Teatro Duque, que era alugado para o efeito. Era uma pequena sala de espectáculos que existia sensivelmente no local onde hoje existe a actual Estação dos Correios de Buarcos.
No dia 17 de Setembro de 1912, o Grupo já tem uma dimensão e importância significativa pelo que é digno da honra de receber uma visita especial. O Dr. Manuel de Arriaga, o primeiro Presidente da República Portuguesa, que era visita habitual da Figueira da Foz durante a época estival, é distinguido pelo Grupo com uma festa em sua homenagem.
O Grupo manterá ao longo dos anos a sua apetência pelas artes de Moliére, mas começa também a fazer representações no novo Teatro Trindade, propriedade de Fernando Augusto Soares, grande benemérito do povo de Buarcos.
O dia 1 de Março de 1914 é também um marco digno de nota nesta breve súmula pois foi a data da aquisição em hasta pública do velho Teatro Duque pela quantia de 920 mil réis. É um passo incerto, pois o edifício está muito degradado e a necessitar de importantes obras de remodelação para proporcionar segurança e comodidade aos espectadores.
No dia 31 de Março de 1914, o Grupo agrega a si o Sport Club Buarcosense. Esta agremiação possuía uma pequena banda pelo que é com alguns dos seus instrumentos musicais que o Grupo inaugura a sua Secção Musical. Quando anos mais tarde, Portugal participa na Primeira Guerra Mundial, o Grupo não fica indiferente pois em Junho de 1918 efectuou um espectáculo a favor das famílias dos soldados portugueses que combatiam nas trincheiras em França. Este espectáculo é efectuado no Teatro Trindade, pois o degradado Teatro Duque, dado a falta de condições, fora arrendado a um industrial para servir de armazém.
A vontade de possuir uma casa de espectáculos digna e construída de raiz para esse efeito começa a tomar forma. Assim, a 22 de Junho de 1925, é adquirido o primeiro lote de terreno onde se planeia construir o novo Teatro-Sede da colectividade.
Mais uma vez, as vontades conjugam-se e gradualmente esse objectivo é tornado realidade quando no dia 9 de Maio de 1926 é lançada a primeira pedra do actual Teatro. Nessa cerimónia um dos convidados declara com admiração que Quando os Caras Direitas dizem que fazem, fazem mesmo!. É mais uma frase que fica na memória colectiva do Grupo, como um exemplo para as actuais e futuras gerações de sócios do Grupo. Somando ofertas de pessoas de todos os quadrantes sociais do concelho ao trabalho voluntário de muitos dos sócios e de muitas outras pessoas da vila, o Grupo consegue erguer finalmente o seu Teatro. É inaugurado solenemente no dia 6 de Maio de 1928. Nessa data esta agremiação coloca também mais uma forma de entretenimento ao alcance da comunidade de Buarcos: o cinema. A sessão de inauguração termina com a peça O Solar dos Barriguinhas, onde se estreiam dois sócios que serão marcantes nos anos vindouros: Vasco da Gama e Jorge Bracourt. Essa dupla de actores, encenadores, compositores destacam-se pela qualidade e pelo sucesso dos espectáculos e actividades que organizam no seio do Grupo.
Dado o inexorável curso do tempo e o seu correlato progresso, a actividade cinematográfica é ainda melhorada com a instalação a 7 de Setembro de 1932 do equipamento sonoro que permite ao espectador descobrir o som dos filmes que visionam no écran.
No decorrer do ano de 1938 é criado no interior do Grupo um rancho folclórico. É o hoje famoso Rancho das Cantarinhas de Buarcos, que projectou a imagem do Grupo e de Buarcos por todo o País e pelo estrangeiro.
Entretanto o Teatro-Sede é alvo de uma importante remodelação, devido a exigências da Inspecção Geral de Espectáculos. As obras são concluídas durante o mês de Julho de 1969.
O espaços desportivos situados nas imediações do Teatro vai cada vez mais tomando a forma de um Pavilhão Gimnodesportivo e é igualmente construído um edifício que permita albergar dignamente toda as actividades do Grupo. Finalmente a 1 de Dezembro de 1982, dia do 75º aniversário, ocorre a inauguração do Pavilhão Gimnodesportivo.
A última década do século XX é uma fase de melhorias nos equipamentos então existentes. Na sala de espectáculos, as cadeiras são substituídas, o equipamento cinematográfico sofre melhorias significativas especialmente no que diz respeito ao sistema de som. Nesses anos e na viragem do milénio, as receitas da Sala de Espectáculos têm sido o grande esteio que garante a sobrevivência da colectividade e a prossecução dos seus projectos.
No dia 25 de Novembro de 2001, é lavrada a escritura no Cartório Notarial dos novos Estatutos da Associação Grupo Caras Direitas. Este novo texto é fruto de um grande debate e consenso interno efectuado ao longo de várias Assembleias Gerais. O resultado foram uns Estatutos mais adequados aos problemas que o Grupo tem que enfrentar no quotidiano, o que permite responder melhor aos desafios que lhe coloca a sociedade.
Nos últimos meses de 2001, o Grupo em parceria com a Rádio Clube Foz do Mondego, lança um novo espaço para a divulgação da música portuguesa. Essa iniciativa foi a primeira edição do Festival Praia da Claridade, que pelo sucesso que alcançou constitui um sinal para o futuro da colectividade.
Pedro Frota
Este texto baseia-se num trabalho realizado em 1986 por Maria Manuel Cabete da Encarnação.
Fonte: http://carasdireitas.no.sapo.pt/historial.htm
Desde 2001 muitas coisas já se passaram, umas negativas, outras positivas.
A que mais marcou, negativamente, a Associação foi o incêndio que destruiu totalmente o palco, hoje, com muito sacrifício, já reconstruído.