Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

PRAIA DA CLARIDADE

Figueira da Foz - Portugal

PRAIA DA CLARIDADE

Figueira da Foz - Portugal

18
Fev05

António Aleixo

Praia da Claridade

AntonioAleixo.gif

O poeta António Aleixo, cauteleiro e guardador de rebanhos, cantor popular de feira em feira, pelas redondezas de Loulé, é um caso singular, bem digno de atenção de quantos se interessam pela poesia.
Nasceu em Vila Real de Santo António a 18 de Fevereiro de 1899
Faleceu em Loulé a 16 de Novembro de 1949
.
Não sendo totalmente analfabeto, sabe ler e leu meia dúzia de bons livros - não é porém capaz de escrever com correcção e a sua preparação intelectual não lhe dá certamente qualificação para poder ser considerado um poeta culto. Todavia, há nos versos que fazem parte do seu livro "Este livro que vos deixo", uma correcção de linguagem e sobretudo, uma expressão concisa e original de uma amarga filosofia, aprendida na escola impiedosa da vida, que não deixa de impressionar. António Aleixo, compõe e improvisa nas mais diversas situações e oportunidades. Umas vezes cantando numa feira ou festa de aldeia, outras, a pedido de amigos que lhe beliscam a veia; ora aproveitando traços caricaturais de pessoas conhecidas, ora sugestionado por uma conversa de tom mais elevado e a cuja altura sobe facilmente. Passeando, sozinho, a guardar umas cabras ou a fazer circular as cautelas de lotaria - sua mais habitual ocupação, por isso também chamado "poeta cauteleiro" - ou acompanhado por amigos, numa ceia ou num café, o poeta está presente e alerta e lá vem a quadra ou a sextilha, a fixar um pensamento, a finalizar uma discussão, a apreciar um dito ou a refinar uma troça. E, normalmente, a forma é lapidar, o conceito incisivo e o vocabulário justo e preciso. O que caracteriza a poesia de António Aleixo é o tom dorido, irónico, um pouco puritano de moralista, com que aprecia os acontecimentos e as acções dos homens.
       
Joaquim Magalhães
In
Este Livro que vos deixo...
António Aleixo

Quadras e Versos
       

A obra do poeta é constituída por
Quadras, Versos,Glosas e Autos: "Auto da Vida e da Morte", "Auto do Curandeiro" e " Auto do Ti Jaquim".
Os motivos e temas de inspiração são bastantes variados. Não sendo um revoltado, acaba por desabafar na sua poesia todo o sofrimento provocado por certas injustiças, como se pode apreciar na quadra seguinte:

Quem nada tem, nada come;
     E ao pé de quem tem de comer,
     Se alguém disser que tem fome,
  Comete um crime, sem querer

 

Mentiu com habilidade,
fez quantas mentiras quis,
Agora fala verdade,
ninguém crê no que ele diz.

A quadra tem pouco espaço
Mas eu fico satisfeito
Quando numa quadra faço
Alguma coisa com jeito.

Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão

Vós que lá do vosso Império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um Mundo novo a sério.

Uma mosca sem valor
Poisa c'o a mesma alegria
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.

P'ra mentira ser segura
e atingir profundidade
tem de trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.

São parvos, não rias deles,
deixa-os ser, que não são sós:
Às vezes rimos daqueles,
que valem mais do que nós.

Embora os meus olhos sejam,
os mais pequenos do Mundo
O que importa é que eles vejam
O que os homens são no fundo.

Este Livro que vos deixo... 7ª edição, 1983

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Pesquisar

Arquivo

    1. 2008
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2007
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2006
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2005
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D